Entro no carro, apercebo-me que o cheiro de ti ficou do abraço em
que me disseste adeus, até logo... Como é bom te-lo comigo, não quero
que se vá. Desligo o aquecimento, ignoro o frio na vã esperança de o
preservar mais um pouco. Inspiro lentamente e sorrio, recordo-me do
olhar. Recordo-me dos meus braços marinheiros a atracar em teu corpo,
meu porto. Recordo-me do teu sorriso que se despe em ternura. Olho para
dentro de mim. Vejo paz, uma estranha sensação de conforto me enche o
ser, inevitavelmente olho para ti, dragão que habita o coração,
alimentas essa pequena chama, sinto que estas feliz.
Um
dia li, que todas as mulheres são uma chama. Umas são a chama que arte e
dança no pavio de uma vela, são uma luz nas nossas vidas, iluminam-nos
nas noites mais escuras em que o guerreiro que mora em nos
se apercebe que a dor sabe a sal.
Outras são como uma fogueira de verão, trazem luz e calor, trazem historias e sorrisos, trazem o cheiro a flores e
mar, trazem o céu estrelado de Agosto. Mas pela manhã se vão com o orvalho e a maresia.
Outras
são a chama intensa que arde na forja de um ferreiro, vorazes,
radiantes, perigosas, pensam que podem derreter o mundo a seu belo
prazer. Esquecem-se que uma simples pedra chega para as aprisionar.
Por
fim temos as chamas que ardem na lareira de um lar, modestas, mas
quando bem cuidadas nos aquecem, completam as nossas vidas. Trazem
felicidade mesmo quando o frio solstício aperta. Iluminam com a força de
várias velas. Pela sua luz passam muitas historias, sorrisos e o
corpo aveludado de um copo de vinho.
Sei
muito bem a chama vejo em ti. Talvez seja cedo demais para que o sonho
que secretamente encerro em mim seja sussurrado ao vento, por enquanto
fico com cheiro de ti que se desvanece mas levo-te em mim.
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