Monday, December 3, 2012

Cheiro de ti

Entro no carro, apercebo-me que o cheiro de ti ficou do abraço em que me disseste adeus, até logo...  Como é bom te-lo comigo, não quero que se vá. Desligo o aquecimento, ignoro o frio na vã esperança de o preservar mais um pouco. Inspiro lentamente e sorrio, recordo-me do olhar. Recordo-me dos meus braços marinheiros a atracar em teu corpo, meu porto. Recordo-me do teu sorriso que se despe em ternura. Olho para dentro de mim. Vejo paz, uma estranha sensação de conforto me enche o ser, inevitavelmente olho para ti, dragão que habita o coração, alimentas essa pequena chama, sinto que estas feliz. 

Um dia li, que todas as mulheres são uma chama. Umas são a chama que arte e dança no pavio de uma vela, são uma luz nas nossas vidas, iluminam-nos nas noites mais escuras em que o guerreiro que mora em nos se apercebe que a dor sabe a sal.

Outras são como uma fogueira de verão, trazem luz e calor, trazem historias e sorrisos, trazem o cheiro a flores e
mar, trazem o céu estrelado de Agosto. Mas pela manhã se vão com o orvalho e a maresia.

Outras são a chama intensa que arde na forja de um ferreiro, vorazes, radiantes, perigosas, pensam que podem derreter o mundo a seu belo prazer. Esquecem-se que uma simples pedra chega para as aprisionar.

Por fim temos as chamas que ardem na lareira de um lar, modestas, mas quando bem cuidadas nos aquecem, completam as nossas vidas. Trazem felicidade mesmo quando o frio solstício aperta. Iluminam com a força de várias velas. Pela sua luz passam muitas historias, sorrisos e o corpo aveludado de um copo de vinho. 

Sei muito bem a chama vejo em ti. Talvez seja cedo demais para que o sonho que secretamente encerro em mim seja sussurrado ao vento, por enquanto fico com cheiro de ti que se desvanece mas levo-te em mim.

Monday, May 14, 2012

O fim da melodia

Chegou o fim da melodia que é a vida de Bernardo Sassetti. Ficou a obra... aquela obra que imortaliza os que souberam fazer da vida grande.
'Alice' uma daquelas 'amigas' às quais eu gostava de pedir companhia nas noites silenciosas entre um travo de vinho e o paladar das luzes da cidade... tu e melodias como tu, sempre companheiras que me confortam em noites em que me perco e encontro...

Resta-me apenas dizer que isto não é musica triste e deprimente (como alguém um dia me disse). É musica que me ecoa dentro da gente e faz desabrochar uma sorriso... 



Tuesday, April 24, 2012

Dragão com saudades da dor


Sentado no cimo de um pico, sinto o meu dragão voar livre. Devorei a dor no caminho.... A ela foi buscar forças que sempre que o cansando me ameaçava derrotar. Deu-me alento para cada passo... Fez arder a vontade de vencer... de desafiar os meus limites. De acabar com os meus vícios...


Não esqueci a minha Fênix... Dela deixei ficar, em mim, o melhor... E a saudade de uma metade... 


Nas minhas mão já não sinto a dormência da ressaca do vazio... da falta da textura da pele que percorri infinitas vezes... O meu peito já não se enche em busca do cheiro adocicado que ainda não esqueci...


Hoje continuo por mim, apenas por mim... Pelo que me faz sentir bem... O meu dragão reaprendeu a voar... Finge ser um dos mais fortes... exibe as suas cicatrizes com o orgulho próprio de um guerreiro. Confia nele... sabe que tem valor... anda louco ou pulos por ai...

Thursday, March 15, 2012

Um Dragão que já não sabe voar


Todos nos temos um dragão no coração, que, depois de ver as suas asas queimadas pela Fênix a que chamamos amor... sente desejo de voar... mas tudo o que conseguem é raiva, frustração e tristeza. Começa a duvidar se o céu é o seu lugar...

Sente o vento no que outrora foram as suas asas... deixa-se levar pela sensação de liberdade fica embebido por esse sentimento, finge ser feliz...

Salta de monte em monte, conhece outros dragões... solta labaredas que se extinguem no momento em que olha para os tesouros guardados nos outros corações... parecem vazios, diferentes ou então cheios, do que são a seu olhos fúteis rochas polidas.... Algumas já as conhece bem... foge ao avista-las... Mas de quando em quando, espera mais um pouco, olha por entre o brilho polido das pedras, sonha encontrar o que procura...

Ele sabe que os verdadeiros tesouros são difíceis de encontrar, muitas vezes guardados por dragões moribundos... repletos de medos, cicatrizes e carapaças de sangue, que escondem o seu tesouro do mundo... deixam o nosso dragão curioso, entretido... eludido com as suas próprias esperanças...

Mas a noite chega... o silencio incomoda... o nosso dragão olha para o chão queimado à sua frente onde tantas vezes a Fênix ardeu... lembra com carinho do quanto era especial... o silencio
incomoda...

Tuesday, March 13, 2012

A Fênix e o Dragão


Todos nos temos um dragão no coração, que de tempos em tempos solta o fogo que é a paixão, um fogo que nos queima o sangue, aquece o peito. Mas, pouco a pouco, esse fogo perde alento.


É então que, de vez em quando, no meio das chamas avistamos uma fênix a que chamamos amor.


O nosso dragão olha para ela, e achando que é especial, envolve-a com as suas asas. Pensa que é o melhor do mundo.


Ate que um dia, do nada, a fênix irrompe em chamas, queima as asas do nosso dragão,

que mesmo assim, acreditando que é especial se recusa a abrir-las.


Olhamos então para um monte de cinza, que, para nosso espanto, se move e dele volta a nascer a fênix, mais bonita que outrora.


O nosso dragão continua a pensar que é especial, o melhor e mais sortudo dragão do mundo.


De quando em quando a fênix irrompe em chamas, o nosso dragão sofre, mas sabe que das cinzas a fênix voltara a nascer.


Um dia, do nada, o nosso dragão maltratado tira o olhos da fênix, começa a olhar para as suas asas, queimadas, rasgadas, esburacadas. Apercebe-se que já não consegue voar, entre elas dorme a fênix. Mesmo assim ele pensa que é especial...


O nosso dragão sofre, sente falta do tempo em que voava, sente falta do fogo que outrora soprava, sente faltas das suas asas e da grandiosidade de outrora. Sabe que a fênix o esta a matar, mas sem ela, não é especial...

Então a fênix volta irromper em chamas, se transforma em cinzas, o nosso dragão vê as suas asas se desfazerem mais um pouco, ai a muito custo, no meio da dor, sopra as cinzas para longe...


O nosso dragão sofre, sente que já não é especial, não passa de um farrapo, já não pode voar, fica de cabeça baixa... se tivermos sorte, com tempo, as asas voltam a crescer, volta a soprar o fogo de outrora. As cicatrizes do fogo passado ficam, para sempre... Mas não vão ser elas que impedem o nosso dragão de voltar a voar...